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Precisamos de dar um sentido à vida?

  • sandramtcosta
  • 28 de fev. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 4 de mar. de 2024

Depois de ler o livro de Viktor E. Frankl "O Homem em Busca de um Sentido" fiquei a questionar-me se realmente precisamos de dar um sentido à vida ou se foi apenas algo que nos foi incutido e nos fez esquecer de simplesmente viver. No meio das nossas vidas ocupadas, é fácil perder de vista o panorama geral e questionarmo-nos sobre o significado de tudo. Mas, e se a resposta estiver no momento presente e na nossa capacidade de moldar o nosso destino? Desde tomar as rédeas da nossa vida e avaliar os nossos pontos fortes até voltarmo-nos para nós mesmos e aceitarmos o incontrolável, este artigo explora e questiona a essência de uma vida com sentido, com base no livro de Viktor E. Frankl.


A primeira frase que sublinhei no livro reflecte o tema do livro: “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo”, e “aguentar o Como da existência”, o que me faz lembrar a frase “A esperança é a última a morrer” porque perdendo a esperança perde-se tudo, inclusive a vontade de viver.

Quem sofre de depressão e tem ideação suicida não terá como factor comum a perda de esperança? A perda de capacidade de antever ou imaginar um futuro leva à perda da esperança, que por sua vez leva à perda de vontade de viver? Bastará ter esperança para realmente suportar “quase tudo”?

Para Frankl, a vida é “uma busca de sentido” e considera 3 fontes possíveis:

  1. O trabalho - “fazer algo significativo” Quantos de nós não se identificam com o seu trabalho? Sentem que se perderem o emprego perdem uma parte deles próprios ou até o sentido da sua vida?

  2. O amor - “cuidar de outra pessoa” E com um parceiro ou ente querido? Que se por algum motivo deixam de fazer parte da nossa vida sentimos que levaram com eles uma parte de nós?

  3. A coragem - “em tempos difíceis” Coragem? Aqui sou biased, não consigo não o ser. A única coisa que me vem à mente é “Nos tempos difíceis, há outra opção que não ter coragem e continuar?”


“As forças fora do nosso controlo podem levar-nos tudo, excepto a liberdade de escolhermos como respondemos a uma dada situação”.

“Não podemos controlar o que nos acontece mas podemos controlar o que sentimos e fazemos”, ou seja, como reagimos.

Isto é aquela típica frase que ouvimos naqueles momentos em que estamos mesmo mal e a última coisa que queremos ouvir é que podemos fazer algo em relação a isso porque queremos culpar tudo e todos e não assumir nenhuma responsabilidade sobre isso. Custou de todas as vezes que a ouvi. Se for mesmo honesta, ainda custa durante os maus momentos. A diferença é que hoje encaixa, hoje sei com a mente e com o coração que esta frase está correcta. Se estou no trânsito e alguém faz algo que pode pôr a nossa vida em risco, eu posso escolher estrebuchar, ficar irritada e sentir o sangue a ferver, ou respirar fundo, acalmar (porque o nosso sistema nervoso responde sempre, especialmente a situações que percebe como perigo), perceber que é um ser humano que está do outro lado que comete erros como todos nós e seguir em frente. Hey, não sou santa nem monge, há dias que consigo ter a segunda abordagem, há outros que caio na primeira mas vou sempre tentando, porque sei que a segunda abordagem me traz paz, que é o que mais desejo.


“Não ficamos sem nada enquanto mantivermos a liberdade de escolher como reagimos”

“…tudo pode ser tirado a um homem, menos uma coisa: … a possibilidade de escolhermos a nossa atitude em quaisquer circunstâncias , de escolhermos a nossa maneira de fazer as coisas.”

“…o género de pessoa em que o preso se transformava era resultado de uma decisão interior e não exclusivamente das influências do campo. … qualquer homem pode, mesmo em tais circunstâncias, decidir o que será feito dele - mental e espiritualmente.”

“É esta liberdade espiritual (interior) - que não pode ser-nos roubada - que torna a vida algo com sentido e finalidade

“Entre os prisioneiros, só uma minoria manteve por inteiro a liberdade interior e alcançou os valores propiciados pelo seu sofrimento, mas um só exemplo desses é prova suficiente de que a força interior dos seres humanos pode erguê-los acima do seu destino exterior.”


“O homem, cuja auto-estima dependera sempre do respeito dos outros, fica emocionalmente destruído” quando lhe tiram aquilo que consideram ser o motivo de ter o respeito dos outros. Ou seja, enquanto dependermos de factores externos a nós estaremos sempre a dar o poder de nos destruirem aos outros.


Frankl diz que é possível “curar a alma levando-a a descobrir o sentido para a vida”. Nietzsche diz “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo”. Quer isto então dizer que tendo um propósito na nossa vida, arranjando uma justificação para cá estarmos, não só nos dá vontade de viver como nos ajuda a suportar quase tudo o que surge na nossa vida? Será este o motivo que leva tantos de nós desesperadamente à procura de uma razão para viver? Será também nisto que a religião se suporta? Nesta necessidade aparentemente inata que surge com o facto de sermos seres humanos?

Mas, precisamos mesmo de um motivo para viver? Não pode viver e apreciar cada momento que estamos aqui ser razão suficiente para viver? Porque queremos mais?


“não é a dor física que dói mais; é a agonia mental causada pela injustiça”

Acerca do sofrimento humano, Frankl compara com o comportamento do gás “Se uma determinada quantidade de gás for bombeada para dentro de uma câmara vazia, enche esse espaço por completo e de forma regular, por maior que a câmara seja. Assim, também o sofrimento enche completamente a alma humana e a mente consciente, pouco importando se o sofrimento é pequeno ou grande. Portanto, o <tamanho> do sofrimento humano é absolutamente relativo. Segue-se daí, igualmente, que uma coisa insignificante pode causar a maior das alegrias”


“Preferiam fechar os olhos e viver no passado. Para tais pessoas, a vida torna-se uma coisa sem sentido”. Isto faz-me lembrar uma frase de Gleison Andrade, “Ansiedade é viver no futuro e depressão é viver no passado, quando o mais sensato é viver o presente”


Bismarck: “A vida é como ir ao dentista. Pensamos sempre que o pior ainda está para vir e, no entanto, já passou”. Temos tendência a achar que conseguimos prever, visualizar o que o futuro nos reserva mas a verdade é que imaginamos pior do que pode e vai ser. Não vamos ser a pessoa que somos hoje a enfrentar o amanhã. Hoje podemos não saber como enfrentar os desafios de amanhã mas a nossa versão do futuro provavelmente vai saber. Acreditar que o melhor já passou leva-nos no caminho da depressão. “Ao perder a crença no futuro, perdia igualmente o controlo espiritual; deixava-se decair e ficava sujeito a um definhamento físico e mental.”


“não importava verdadeiramente o que esperávamos da vida, mas antes o que a vida esperava de nós. Precisávamos de deixar de perguntar pelo sentido da vida e tínhamos, em vez disso, de pensar em nós mesmos… em todas as horas de cada novo dia. A nossa resposta deve consistir, não em conversa e meditação, mas na acção e conduta correctas. A vida significa, em última instância, assumir a responsabilidade de encontrar a resposta adequada aos seus problemas e ultrapassar os desafios que constantemente apresenta a cada indivíduo. Esses desafios e, portanto, o sentido da vida, variam de pessoa para pessoa e de momento para momento.”


“Por vezes, a situação em que o homem se encontra pode exigir-lhe que molde o seu próprio destino por meio da acção.”, ou seja, não se resignar a algo pelo qual ainda pode haver alguma acção para mudar. “Outras vezes, é mais vantajoso para ele aproveitar uma oportunidade para a contemplação e, dessa forma, avaliar os seus trunfos.”, neste caso será para parar e pensar e avaliar quais (se houverem) os próximos passos a dar de acordo com o que sabemos até agora. Quantos de nós param o piloto automático e passam algum tempo a questionar sobre a sua vida, sobre as suas acções e a direcção que gostariam que a sua vida tomasse? “Outras vezes ainda, o homem pode ser chamado a aceitar simplesmente o destino, a carregar a sua cruz.” Quando temos diante de nós situações sobre as quais não temos controle, não podemos mudar, resistir à aceitação deste facto leva apenas ao sofrimento. A única opção viável é aceitar e seguir em frente. E esta será, na minha opinião, a mais difícil de todas, mas também a mais libertadora.


A própria questão, qual o sentido da vida, “concebe a vida como o alcançar de um qualquer objectivo, mediante a criação de alguma coisa com valor”, porque achamos (assumimos) nós que há algum propósito? Algum destino final? Não será o sentido da vida, apenas e só, vivê-la? Tal como a felicidade não é um destino, mas sim, uma viagem?


Uma das minhas frases favoritas no livro é “Tudo aquilo que viveste, nenhum poder na terra pode roubar-te”. Pode-se perder tudo na vida mas as nossas memórias, vivências, experiências, isso, nunca ninguém nos pode tirar. E não é a nossa vida feita disso? Dos pequenos momentos? Das experiências solitárias e partilhadas? O que vai connosco quando morrermos? E o que fica cá depois de irmos? Memórias de quem nos amou e se recorda de nós quando já partimos.

 
 
 

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